O relógio aponta para as 11:30 da manhã e o dia já vai longo para José Emílio. Com 51 anos de idade, conta com já 39 como pescador, em Setúbal.
"Zé Mil", como pede para ser tratado por ser a sua alcunha desde criança, mantém há muitos anos a mesma rotina - "Acordo todos os dias às 3:30 e às 4:30 já estou no mar. São sete horas seguidas de trabalho!" - diz enquanto prepara as redes para o dia seguinte. Serão estas que lhe ajudarão a fazer uma boa pescaria. Serão estas que lhe possibilitarão um ordenado no final do mês.
Criado numa família de pescadores, desde muito cedo que começou a enfrentar o mar - "Conheço-o como a palma da minha mão. Sei-o de cor, como diz a música." - afirma com convicção.
Dono de uma pele morena, queimada por dias e dias exposta ao sol "Zé Mil" nunca aceitou trocar de profissão. Ao longo da sua vida sempre tivera várias propostas mas afirma que é no mar que se sente completo - "Comecei a ir de pequenino com o meu pai. Depois ele reformou-se e eu continuei sozinho. O mar é o meu melhor amigo e o grande guardião dos meus segredos ".
Depois das sete horas a navegar na embarcação que possuí, - "A minha barca Flor do Monte!" - que faz questão de realçar - o dia de trabalho continua. No pequeno compartimento que comprou junto ao local onde guarda o seu barco, prepara o material para o dia seguinte e divide o peixe para o puder vender. Este é vendido na lota de Setúbal e controlado pelas entidades competentes - "Ali não falha nada. Somos controlados. Trazer peixe para fora só se alegarmos que é para consumo próprio e em pouca quantidade!"- assegura com alguma revolta.
Os finais de tarde são passados no café do bairro das Fontaínhas, local conhecido pelos encontros entre pescadores. Lá partilham histórias, falam das suas vidas e indicam bons lugares para as pescarias.
Quando se fala em férias, "Zé Mil" diz desconhecer essa palavra. Não há tempo para isso. Resta-lhe os dias pontuais que não trabalha, devido às temperaturas meteorológicas. Estes aproveita-os para estar com os amigos e com a família - "Gosto de ir beber o meu tinto com os meus compadres ou ir dar uma voltinha com a minha Maria! Ela é que tem cá uma paciência!". - diz entre risos.
Detentor de uma personalidade forte, como fez questão de frisar, e com uma vida repleta de sustos e aventuras, enfrenta todos os dias aquele por quem tem o maior respeito: o mar. São as ondas que embalam os seus sonhos, o frio que lhe arrefece os pensamentos e a água que lhe aviva a memória. "É no mar que sou feliz. E a sua força ajuda-me a nunca desistir!" - afirmou em género de conclusão.
Autora: Sara Chaves
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